Software livre como posição estratégica de uma nação

Estava folheando algumas revistas antigas, quando me deparei com uma de 2003 sobre Java, e me deparei com uma matéria falando de como o governo brasileiro prometia à época investir em software livre. Muito tempo se passou já – talvez nem tanto na política, mas no mundo digital sim – apesar de algumas coisas terem se tornado realidade, a maioria jamais aconteceu.

Não vou aqui ficar falando dos benefícios do software livre puramente, mas sim tentar levantar algumas idéias de porque ele é importante para um país em termos políticos e ecônomicos.

Em termos econômicos, acontece que o Brasil é importador de quase todo software comercial usado por aqui (produzimos muito pouco, isso sem falar que absolutamente 100% dos sistemas operacionais comerciais são de fora), o que trás um enorme déficit na balança comercial tupiniquim. Pra ter uma idéia, usando números de 2006, uma licença de Windows XP valia o mesmo que 25 caixas de laranja exportada para os EUA. Softwares mais específicos, como os aplicados nas áreas de engenharia, chegam a equivaler a toneladas de frango.
Vale ainda reforçar que, com a constante evolução tanto dos hardwares (que possibilitam softwares mais complexos) quanto dos softwares (novas metodologias aparecem, idéias são criadas, paradigmas são quebrados), as atualizações são constantes – e elas custam dinheiro.

Do lado político, não faz sentido um país ser totalmente dependente de tecnologias privadas. E esse desparate só piora se formos ver que, novamente, essa tecnologia usada na base de todo sistema ligado à informática no país é de empresas que não possuem o menor vínculo com a nação. Um país deve conseguir ser auto-suficiente na maior parcela possível de todos os seus meios de produção; da mesma forma que a matriz energética deve ser toda dominada, quanto a produção e distribuição de alimentos e água, deve ser também capaz de entender a sua própria "tecnologia digital" e ser dona de todo o sistema. Porque? Independência. É necessário ser independente de qualquer forma privada de domínio tecnológico.
 

É de responsabilidade do governo fomentar o crescimento do software livre no país; num primeiro momento pode parecer uma idéia que visa apenas beneficar os geeks, as instituições de pesquisa ou ser apenas uma maré de anti-imperialismo yankee; mas, no fundo, é uma ótima saída tanto econômica quanto de soberania.

Obs.: e seria uma grande falácia falar que o software proprietário é o mal de tudo e que deveria sumir. O software proprietário é importante; muitas grandes corporações vão sempre se utilizar dele por uma questão de confiança (ter alguém, um nome, para quem reclamar, em caso de problemas) ou de qualidade (ou alguém duvida que o AutoCAD ou o Photoshop são ferramentas de alto nivel e que tem concorrentes à altura no mundo livre, ainda?)